3. APRENDIZAGEM AUTORREGULADA

Apesar destas mudanças na sociedade em que vivemos, a dinâmica em sala de aula no processo de aprendizagem ainda precisa evoluir para absorver estes cenários. O papel do estudante precisa ser mais ativo na sua formação, o que permite que defina suas trilhas de aprendizagem e interfira em sua função quando do ambiente do trabalho e em sua comunidade. (Charlot, 2014)

No passado, qualquer estudante que desejasse se apropriar de algum saber elaborado específico teria que estar disposto a ouvir horas e horas de preleção de alguém que detivesse esse conhecimento. Havia uma total dependência dos mestres, a partir de uma relação assimétrica, sem diálogo, contestações. Os saberes não estavam publicados nos livros ou acessíveis. Enfim, aprendia-se praticamente pelo ouvir e o aprendizado era quase uma obediência.

Hoje, tudo o que se deseja saber está disponível na internet, podendo ser obtidas facilmente, a partir de bases de dados que as aglutinam com ferramentas de busca e registro. Aprende-se muito mais se lendo livros ou telas de computadores do que ouvindo. Tudo o que um professor fala, provavelmente está escrito em algum lugar, independente do assunto de interesse. Atualmente, a aprendizagem depende mais do interesse do estudante de aprender e da sua habilidade para procurar e transformar uma informação em conhecimento do que do seu professor, a chamada aprendizagem autorregulada (Zimmerman, 2015).

Assim a aprendizagem autorregulada envolve processos comportamentais, motivacionais e metacognitivos que são pessoalmente iniciados no desenvolvimento de conhecimento e habilidades, através de estratégias de planejamento, acompanhadas da devida avaliação e análise, que leva a constante replanejamento das ações (Figura 4). O estudante está empoderado para definir seu alcance.

Figura 4 – Modelo teórico PLEA (Rosário, 2004b)

O interesse de hoje não é saber tudo, mas, sobretudo buscar a suficiente autonomia de encontrar o que se precisa, identificando as ferramentas de acesso ao conhecimento. Nesse contexto, não faz mais sentido se falar em formatura, ou seja, alguém que conclui uma graduação já não pode se autodenominar de formado. A grande diversidade de assuntos que precisam ser aprendidos, a velocidade com que esses assuntos se desatualizam e a demanda do mundo moderno pela utilização de novos conhecimentos e habilidades, cada vez mais, nos leva a substituir o velho conceito de formatura pelo de formação continuada ou aprendizagem ao longo da vida .

As mudanças no contexto da aprendizagem também levaram a uma mudança nas relações de poder dentro da sala de aula. Sabe-se que, a informação e o conhecimento confere poder a quem os detém, se esses objetos já não são mais privilégios de alguns, mas estão disponibilizados a todos, uma espécie de democracia pelo conhecimento é construída. O autoritarismo de alguns professores sofre um revés, pois seus estudantes já não precisam mais tanto ouvi-lo ou “obedecê-lo” pelo conhecimento que ele, supostamente, detém. Desta forma, o estudante precisa ter seus professores como alguém com uma visão mais ampla da realidade, com a experiência que lhe falta e que podem funcionar como facilitadores da aprendizagem.

Além disso, é necessário buscar nos colegas que estão no mesmo caminho de formação, os interesses comuns e complementares. As equipes contendo objetivos comuns e que a partir da ajuda mútua poderão trilhá-lo da melhor forma, traz a urgente valorização da interação social com o desenvolvimento das habilidades para uma convivência saudável.

Clama-se pelo empoderamento das pessoas e de suas comunidades, especialmente aquelas historicamente excluídas como as de origem popular. Já não é mais suficiente votar, é preciso participar e estar mobilizado. É necessário que o estudante seja um protagonista social, participando ativamente de todo o processo, dialogando com todos os demais atores envolvidos, sabendo usar os conflitos de forma construtiva, motivado na resolução de problemas da comunidade. Uma nação para ser justa e inclusiva precisa de um povo protagonista e a educação traz um paradigma de libertação.